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Uncle C – Novo Ciclo Kalunga

Um dos meus convidados para dia 5 de Agosto é o Uncle C. Querem conhecê-lo? Oiçam aqui a entrevista/reportagem que ele fez e preparem-se para o que aí vem.

Uncle C

                Corsino “Uncle C” Furtado (data de nascimento…?) é um artista multifacetado, geralmente conhecido pelo seu trabalho como realizador independente de vídeo (filme-documentário). Testemunhou a embrionária cultura Hip Hop em Portugal. Contribuiu definitivamente para o seu crescimento. 

                É natural de Cabo Verde (ilha de Santiago, Santa Cruz), contudo a infância foi repartida entre Portugal Continental (Lisboa, Amadora) e os Açores (Ilha da Terceira, Praia da Vitória), tendo permanecido nessa última localização durante uma década. A Base Aérea das Lajes, compartilhada entre as forças aéreas de Portugal e dos Estados Unidos da América, foi também um ponto de referência. No seu interior havia uma loja que continha inúmeros artigos importados. Para Corsino foi a forma exclusiva de aceder ao “universo Hip Hop”, que na altura se atravessava o período da “Era Dourada”.  

                Curiosamente, Corsino começou por ser um adepto do género Pop Rock. Tudo mudou, após o contacto com uma cassete da banda Public Enemy, “Fear of a black planet” (1990), por intermédio de um amigo do Canadá. Indubitavelmente, um álbum controverso, que causou uma tremenda agitação sociopolítica, inspirando a rebeldia da juventude. O contraste foi, por exemplo, o da dupla Kris Kross, devido ao seu sucesso comercial, mas igualmente com um forte impacto. Na língua portuguesa, nomes como o de Gabriel o Pensador ou o de Boss AC foram os mais sonantes. Na televisão, acompanhou assiduamente programas como o “MTV Yo Raps”, o “The Arsenio Hall Show” ou até as memoráveis atuações do “Showtime at the Apollo”. Aprofundou o seu conhecimento de Rap, conseguindo obter algumas cassetes. E foram decisivas revistas como a “Right on!”, a “Word Up!”, a “Yo!”, a “Black Beat!” ou a “Rap Pages”.

                No contexto de uma ilha remota, Corsino era um dos poucos jovens negros. O Hip Hop fora a novidade que se tornou incorporada na sua vida. Gostava especialmente do “Breakdance”. Em conjunto com um grupo de amigos (Libânio, Missanga e Victor), acalorou as festas populares, com uma dinâmica revigorante, em comparação com a do panorama local.   

                Veio para Portugal continental, em 1994. Habitou no bairro do Zambujal (Amadora). Tinha uma mão cheia de sobrinhos, literalmente. Foi um deles que o batizou carinhosamente de “Uncle C”, precisamente pela junção do nome próprio com a quantidade de sobrinhos. O nome que se eternizou.

                Mudou-se para o centro do concelho, próximo da área do Parque Central. Manteve o interesse pelo Breakdance, inclusive vi os passos dos primeiros B-Boys da capital (com alusão ao “Break” e ao “Xixas”). Porém, o “Emceeing” era igualmente uma aspiração sua. E de facto, identificava-se uma esmagadora presença do Rap. Disseminou-se rapidamente. Uma das suas primeiras ligações foi com o Djoek, reconhecidamente um nome proeminente do Rap / Raggamuffin’ em crioulo, que teve o álbum de estreia “Nada mí n’caten”, editado pela Disconorte, em 1996. Um dia, no decorrer de um evento festivo na Buraca, Corsino conheceu o J-Cap e o Milton, cujo alinhamento convergiu no grupo Three Incorp. Deram alguns concertos, principalmente em escolas. A duração foi curta, tendo o Milton emigrado. Mas a atividade não cessou. O Corsino e o J-Cap reuniram-se com os parceiros Darkanjo, Plasma, Vtony e Principal, formando o 6º Templo, um projeto mais ambicioso, que ganhou destaque no seio do “underground”. Foram convidados para os trabalhos de nomes consolidados do “Movimento”, tais como o de D-Mars (Coletânea “Subterrânea, gravada entre 1997-98), DJ Cruzfader (mixtape “Cosa Nostra”, 1999) e DJ Bombejack (mixtape “Colisão Ibérica”, 1999). Acumularam vários concertos em Portugal Continental (de Norte a Sul), Açores e Espanha. O grupo findou por volta do ano 2000. Corsino foi, ainda, um dos fundadores do Esquadrão Central (em conjunto com o Darkanjo e o Dom Mac I), um coletivo que agregou outros grupos, que representavam as principais vertentes da cultura Hip Hop. O Rap foi-se tornando secundário. Não obstante, a solo participou em dois temas do Chullage, “Nu Bai (Cabo Verde)” (do álbum “Rapresálias – Sangue, Lágrimas e Suor”, de 2001) e “Kabo Verde kontra racismo (kontinua ta bai)” (do duplo álbum “Rapressão – Passado, Presente e Futuro”, de 2004), respetivamente. Foi a sua última gravação enquanto MC.

                Recuando à segunda metade da década de 1990, Corsino também tinha outros gostos: o do design de roupa (fazia impressões gráficas para os parceiros do Rap) e o da fotografia (em festas ou concertos, carregava consigo uma máquina fotográfica e captava os momentos). Equacionou-se um rumo alternativo. Trabalhou até amealhar dinheiro suficiente. Em 2000, numa loja do Centro Comercial Colombo, comprou a sua primeira câmara de filmar (da Sony). Contou com a preciosa ajuda do DJ 30 Paus (ex-membro do grupo Mundo Complexo e conhecido graffiti writer – Nomen), na altura funcionário da mesma. Corsino aprendeu a ser autónomo com a câmara e procurou explorar outros modelos. Registou marcos culturais históricos. 

                Em termos de catálogo, o seu primeiro trabalho oficial foi lançado em 2007, o DVD “Enciclopédia de Hip Hop”, tendo sido gravado no IADE – Instituto de Arte, Design e Empresa. Trata-se de um filme-documentário que inclui sessões e entrevistas exclusivas de artistas nacionais / internacionais. Um contributo significativo para a cultura Hip Hop. Foi exibido na primeira edição do Festival Internacional de Vídeo Musical (ViMus), que teve lugar na Câmara Municipal Póvoa de Varzim, inserido na categoria de “videodocumentários”. Conquistou o segundo lugar. Seguiu-se, com a mesma ética de trabalho, o “Uncleciclopédia Hip Hop vol. 2”, lançado em 2011. Corsino esteve envolvido noutros eventos de renome, fora de Portugal. Em 2016, França (Paris), destacou-se o quadragésimo terceiro aniversário da Zulu Nation (“SuperBad Chapter World”), tendo sido um dos responsáveis por gravar e editar o vídeo do evento. Pretende realizar um terceiro filme-documentário, eventualmente constituindo-se o terceiro volume no que se refere à temática descrita.

                Corsino tem um negócio próprio. É o proprietário da Black City, situada (também) na Amadora. É uma loja “sui generis”, apresentando o expoente máximo do Hip Hop, e em que a criatividade e a inovação artísticas estão intimamente ligadas. Há uma exposição de artigos de coleção privada, que assinalam um percurso cronológico. Ou até outros para venda, como é o caso da roupa, personalizada, dentro do que é o estilo urbano.  

                Uncle C é uma personalidade incontornável do Hip Hop em Portugal. É verdadeiramente dedicado. A sua visão assenta numa perspetiva socioeducativa comunitária, com uma preocupação em direcionar a geração jovem para caminhos mais construtivos. O seu conhecimento é um alicerce, transmitido a qualquer pessoa que, com uma mente aberta, esteja predisposta a aprender sobre a cultura visada. E é de se salientar o profundo compromisso em preservar o seu legado.

Com este modelo de concertos dou inicio a um novo ciclo. Os meus primeiros convidados vão ser o Videografo Urbano UNCLE C e a Cantora e Spoken Wards VANESSA PARISH CROOKS apoiados pela Black City e pela Zoomusica. O evento acontecerá dia 5 de Agosto 2023 pelas 22.30 horas na Sala Visconti da Fábrica de Braço de Prata. A entrada custará 10€ referente ao Passe Fábrica que dá direito a 1 bebida e oferece para além do nosso concerto, música ao vivo até às 02 h da manhã com outros Artistas.

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